Café, nunca bebi até descobrir uma forma suave de beber café, lenta e delicada, em sintonia com essa forma mais calma de viver a vida, mesmo quando a vivemos de forma acelerada. Em cafeteira italiana ou francesa mas sempre café moído, com torra perfeita. Duas colheres em água muito quente, sem estar a ferver, deixar coar. Demora mais do que uma bica, não queima e deixa-se derreter na boca. Comecei este ritual quando adoptei práticas sustentáveis e tentei encontrar uma forma de consumir café que fosse menos impactante para o ambiente. Eu não bebia café e apaixonei-me. Recentemente, descobri um novo café. Apaixonei-me mais.
Ao contrário do sul que beberrica gotas de um café apressado e condensado, quase um shot de cafeína directo ao cérebro, no Norte da Europa, o café é outro ritual. Há quem tenha uma pequena área, na cozinha, para o café. É uma pausa, confraternização e relação. Em Portugal, o vamos beber um café é um clássico. Raramente inclui café!
O café de que vos falo vem de países produtores de café e é torrado preservando os sabores e aromas do grão, sem a amargura de uma torra intensa. O objectivo é destacar o melhor daquele grão, explorando diferentes técnicas e misturando origens. Argumentem que temos uma grande oferta. É verdade. Contudo, estes aromas, só encontrei na Suécia. Uma marca, em particular, fez uma edição especial de Verão que beberia todos os dias, incluindo no Inverno.
Trouxe comigo o café que descobri, apaixonante e delicado, intenso e saboroso, com um toque frutado e aroma a chocolate. O café é tudo isto e a recordação de uma decisão de vida que muda a forma como vivemos a vida. Sair alarga-nos os horizontes de tal forma que mudamos por dentro. A ideia de que, viajando, ganhamos mundo, não equivale a fazer uma mala, carregá-la, abrir uma porta sabendo que outra se fecha.
O mundo está cheio de portas. Temos sempre a possibilidade de as abrir e fechar, perseguindo esse aroma do café que nos preenche e acolhe. Aqui, ou em qualquer outro lugar. Nas notícias dizem que Portugal não tem de ser o país dos salários baixos e, entre outras coisas, Portugal enfrenta um período muito difícil na ciência. Eu acrescento na justiça, na saúde (e tudo o resto). Desde que voltei, não faço senão criticar o estado das coisas, sentindo que falo para um imenso vazio, unindo a minha voz a tantas outras, como se estivéssemos todos à beira do precipício e nem o eco das vozes se ouvisse. Como há uns anos, cansei. Mudei a cassete, não quero ser um treinador de bancada. É inútil apontar o dedo, é preciso agir. E, cada um à sua maneira, poderá - diria deverá - agir na medida das suas possibilidades.
Uma coisa vos digo, felizmente há a web para comprar café ♡
Artigos de Opinião (em PDF para poderem ler)
No Público, Nuno Gama e a moda portuguesa
Na Sábado a monumental trapalhada actual e a mudança de agulha no tema: e se?
(scroll até ao final para poderem ler)
Sugestões da semana
Cristóvam é um artista que não conhecia. Apaixonei-me aos primeiros acordes e notem, não é este o meu estilo de música mas é este o meu tipo de voz.
Experimentem ouvir! E experimentem também um desafio: não comprar roupa nova durante, pelo menos, um mês. Juntem-se a mais de 30 mil pessoas que já se comprometeram a dar a volta à situação, consumindo menos.
É a Slow Fashion Season 2024. Vamos a isso? Quem aguenta mais tempo?
O ano está a acabar e começam a aparecer as agendas. Esta é especial, por duas razões: não é uma agenda qualquer e foi criada por uma boa amiga. Serve os cépticos e os outros que sabem que há coisas que não se explicam. Como estar a escrever-vos e receber uma mensagem de email com a newsletter dessa amiga.
O Moon Planner da Ana Tavares é um guia que nos ajuda a compreender melhor os trânsitos e alinhamentos que, afinal, até influenciam a nossa vida ☾
E se?
O que é escolher bem? É seguir o coração ou a razão? É fazer uma tabela de vantagens e desvantagens para a tomada de decisão ou ignorar tudo e ouvir a intuição? O que é a intuição?
Começa quase sempre de forma inesperada e termina com a expressão do arrependimento por não ter sido diferente, mesmo sabendo que o diferente seria sempre diferente do que imaginamos e o que imaginamos, impossível de imaginar de forma diferente. Falo do e se que nos persegue quando pensamos nas mais diversas escolhas que já fizemos na vida - porque, inevitavelmente, somos confrontados com escolhas - e pensamos no que poderia ter sido se a escolha fosse diferente. Acontece que temos apenas o momento presente. Qualquer escolha faz-se com as ferramentas e a informação de que dispomos naquele período, sem com isso poder antecipar o futuro - que ainda não existe - ou alterar o passado - que já deixou de existir - e, portanto, no momento em que a decisão se impõe, escolhemos. E sabemos que nem sempre o fazemos bem, mesmo conscientes de que não temos como descobrir onde nos levaria outra opção ou sequer, se qualquer uma das outras hipóteses teria um resultado melhor. Melhor? O que é escolher bem? É seguir o coração ou a razão? É fazer uma tabela de vantagens e desvantagens para a tomada de decisão ou ignorar tudo e ouvir a intuição? O que é a intuição? Como descrever - ou medir - um sentimento que não sabemos explicar, construído com base em todas as nossas percepções e experiências, que nos diz que o caminho é aquele e não outro, sem argumentar de forma racional? Decidimos o possível. Sempre.
Por isso, acabamos a imaginar o que poderia ter sido se A em vez de B porque tal levaria a D e não a C. A questão é que não sabemos o que aconteceria em face da outra opção, sequer se iríamos questionar essa opção ou se acabaríamos no mesmo ponto em que nos encontramos, no momento que em o e se ocorre.
Sabe-se, contudo, que milhares de pessoas, em todo o mundo, arrependem-se da licenciatura que escolheram e, por consequência, do seu percurso profissional. Exemplos há muitos, com perguntas no Quora, discussões no Reddit e estudos de agências de recrutamento. Mesmo sem números, todos conhecemos exemplos de quem se agarrou ao seu passatempo, transformando-o numa actividade rentável, de quem largou tudo e se empregou numa área muito diferente ou de quem se abraçou a economia dos criadores para competir pela atenção mediática, ministrando cursos, oferecendo mentorias ou contribuindo para o desenvolvimento pessoal de outros que querem fazer o mesmo, livrando-se do arrependimento para agarrar o que os move: a paixão.
Quando os meus alunos me perguntam o que devem fazer, que caminho seguir, como descobrir aquilo de que gostam, eu digo sempre que, se já sabem que estão na área que os apaixona, é experimentar. Se chegaram aqui, sem saber muito bem porquê, é explorar. Afinal, o que falha neste processo? Será a falta de maturidade no momento da primeira decisão, algures no início da adolescência? Ou será um caminho estilo carreiro de formigas que dificulta a mobilidade entre áreas? Será alguma falta de adequação dos cursos superiores ao mercado e às exigências contemporâneas em mutação? Será a pressão social e familiar? O medo de falhar? Será tudo isto?
O que falta em empregos com uma remuneração justa sobra em paixão subaproveitada. Muitos optam por ignorar as borboletas na barriga para agarrar a segurança de uma posição menos mal paga. Menos mal paga. Está tudo dito. Ao fim de algum tempo adaptam-se, deixam-se moldar e passam a fazer parte de uma imensa maioria para quem o Domingo à noite antecipa uma deprimente semana de trabalho. Há os que sabiam o que queriam e, de repente, apaixonam-se por outra coisa. Outros descobrem que se podem realizar além do emprego. Alguns torcem a orelha e deita sangue. Percebem que não estão a fazer o que gostam, debatem-se com o e se até arriscarem tudo. Mudar faz parte da vida.
Há um ano muitas notícias davam conta de que era na área da comunicação, jornalismo e educação que mais pessoas se arrependiam. Novamente e sobretudo nestas áreas, o que falta em remuneração justa, reconhecimento e estabilidade, sobra em paixão, influenciando este mau-estar e arrependimento. Contudo, se sabemos que escolher a nossa vocação é abraçar a nossa paixão, e que esta é a única forma de evitar o e se, o que falta, ao mundo, para cada um poder abraçar a sua paixão?
Até breve ☆
Paulinha Dra..A minha filha vai de Lisboa à Bairrada e leva o seu kit de slow coffee. Triste é nunca me ter dado ao previlégio de provar..Sou muito tea man...Old Rhodesian days. Obrigado pelos teus textos e ideias refrescantes. Bjns e boa semana 🌹❤️
A minha máquina de café: uma V60 ! Para um Slow Coffee ☕️